terça-feira, 31 de maio de 2011

"Vai-se andando"




Sábado, 9:30

O Café tem normalmente  meia dúzia de pessoas a esta hora . É aconchegado e quentinho no Inverno. No Verão tem sempre uma esplanada, agradável de manhã,  insuportável à tarde. Duas idosas tagarelam na mesa ao lado sobre tudo e nada … Mergulho no mundo jornalístico de fim de semana (única forma, e a suficiente, para me actualizar sobre o que se passa no país) e as vozes passam a soar vaga e imperceptivelmente nos meus ouvidos.

Adeus, que Deus nos dê saúde para irmos andando…”

Esta frase de uma delas, ao partir,  puxa-me para a realidade . A  ideia de que a saúde é algo de sobrenatural até tem a sua razão de ser. Na verdade, aquela geração e todas as outras que se lhe seguiram nunca viram algo que se assemelhasse a uma  verdadeira assistência na saúde. Por que  carga de água é que hão-de acreditar na saúde  dos homens? Acredita-se na saúde divina e pronto! Deus  dá o que quer e a mais não é obrigado e não há conhecimento de uma unica reclamação! Agora o “irmos andando” tem que se lhe diga. É uma expressão tão interiorizada que todos nós a usamos  frequentemente,    como resposta ao "como estás?" .  Uma coisa assim que nem é carne nem é peixe.Típico.

 Na verdade  este país sempre foi um país de  “ir andando”. Tanto andámos que hoje estamos à beira do precipício… “Andando e deixando andar…”  é o lema de muitos Portugueses que não estão para se preocupar sequer com a sua "vidinha" quanto mais com a do vizinho ou a do país...  Triste mas real.

Sim!

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.

Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dubrovnik uma cidade com carácter


Na proxima Terça Feira Dubrovnik espera-me para uma estadia de quatro dias. Sempre muito independente ao longo da sua história, esta cidade conserva as marcas de um passado de orgulho e esplendor. 
Em 1991 as tropas sérvias e montenegrinas cercaram e bombardearam a cidade causando enormes estragos. Com o fim da guerra iniciou-se um longo processo de reconstrução e, actualmente, a cidade brilha no Adrático como nos tempos em que era conhecida por Ragusa, a orgulhosa Ragusa.
A partir de Dubrovnik conto dar um salto a Mostar ,já na Bósnia, cidade com características muito peculiares e à ilha de Mljet considerada uma das mais belas ilhas da Cróacia, famosa pelo seu Parque Natural. Fica cumprida assim a primeira etapa do percurso croata.

domingo, 29 de maio de 2011

Alentejo, mon amour!




Gosto das cores ocres com que te vestes no principio do Verão…
O verde dá-te, por breves momentos , um ar distintamente Escocês no Inverno…
Se tivesses sexo serias mulher, claro… vestida de branco e azul forte.
Os teus olhos …ah! os teus olhos… seriam indiscutivelmente cor do mel .
Doces e profundos como a paisagem.

Mar preso...

Ravenna foi outrora um porto importante. Hoje, é preciso percorrer aproximadamente dez quilómetros para encontrar o mar que, aqui, toma o nome de Adriatico. Algum tempo disponível, temperatura agradável e alguma curiosidade levaram-me a alterar os planos, quando estive por lá, e a decidir ir espreitar este mar. Por aqui, perguntar a um local a melhor maneira de chegar ao ponto X, ainda é a melhor solução. Rapidamente percebi que tinha que apanhar o autocarro em frente à estação de comboios, tudo muito bem explicado (em italiano, claro…) com muitos gestos , sorrisos e um aperto de mão no final como se tivéssemos selado um negócio… Desconcertantes, estes italianos.

O autocarro vagueia entre bairros residenciais periféricos e terrenos pantanosos até se avistarem construções que indiciam a proximidade do mar… Decidi que desceria na ultima paragem mas… como saber? O autocarro já ia quase vazio e arrisquei sair num local que se assemelhava a uma marginal mas… sem mar. Consegui avistar o mar do meu lado direito mas acessos à praia nem vê-los! De facto muros e arame farpado impediam o acesso como se do lado de lá fosse o campo de concentração de Auschwitz. Condominios fechados, restaurantes, bares e aquilo que me pareceu ser um parque de campismo impediam o acesso á praia ao comum dos mortais.A táctica de usar os locais foi novamente preciosa e consegui perceber que não o podia fazer porque tudo era privado. “Tudo? Sim, para entrar tem que pagar bilhete mas agora como não é época de praia está tudo fechado” ?%&#$?. “ Mas eu só quero ver o mar… Não pode. A menos que apanhe novamente o autocarro e desça na terceira paragem. Aí vai encontrar um acesso que está aberto porque andam neste momento a limpar a praia e deixam passar as pessoas”. Contrafeito, mas a pensar que não podia desperdiçar a oportunidade, lá apanhei novamente o autocarro desci na terceira paragem, e vi finalmente o Adriático…

No regresso não parava de pensar como os italianos têm “dedo” para o negócio. Apesar de tudo ainda podemos usufruir livremente das nossas belíssimas praias sem restrições. Um ponto a favor de Portugal. (espero que a Troika não esteja a ler este post senão, sei lá…)

Quem me dera...

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...

                        Alberto Caeiro

sábado, 28 de maio de 2011

No reino das reticências...





“usas demasiado as reticências…”
Este reparo, incondicionalmente verdadeiro, levou-me a tentar perceber por que razão adoptei estes três pontinhos como quem adopta um animal de estimação que vai viver lá para casa.…Curiosamente ,  há uns tempos atrás,  ao mexer nalguns papéis esquecidos há anos  numa estante em casa dos meus pais,  fui dar com uma composição feita  por mim quando tinha  15 anos. E… lá estavam as malditas reticências espalhadas pelo texto.
O meu professor da 4ª classe (sim, ainda sou do tempo  da 4ª classe) dizia ,  do alto do estrado,  que “as reticências são para usar quando uma ideia ou um pensamento fica incompleto”  Raios!! Será que sou tão incompleto assim nas minhas ideias? Sim porque acho que isto de usar e abusar de certas coisas deve ter a ver com a personalidade… Uma pessoa que adore o ponto de exclamação deve ser fresca,  deve….
Descobri,  afinal,  que posso usar as reticencias numa multiplicidade de funções. O que não invalida que as use mal em muitos casos… Mas..posso sempre invocar a liberdade de quem escreve, certo ? Afinal não se escrevem livros sem uma única vírgula???
Gramem lá as minhas reticências e pronto…


As duas torres, ex libris da cidade de Bolonha, estão naturalmente...inclinadas.A curiosa história das torres de Bolonha, que na Idade Média chegaram a ser centenas, perde-se no orgulho e na vaidade de ter a maior e a melhor entre elas. Nada mudou entretanto...Continuamos a querer a melhor e maior casa (sendo o termo inevitável de comparação a do vizinho...)o melhor e maior carro...
Consta que quando algum membro das endinheiradas familias bolonhesas cometia algum crime era obrigada a cortar na altura da torre.. Olha se isso se fizesse agora!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Recomeçar...


Tristemente abandonado este blogue merecia outra atenção… O autor vagueou, entretanto, por entre os ventos e marés (desculpem lá o cliché… mas é adequado) da  vida pessoal que, hão-de compreender merece a atenção máxima.
“Arrumada a cabecinha”, e agora que a calma voltou, o autor está disposto a retomar o leme… E está disposto a dar mais atenção aos “prumos” já que os “rumos” dominaram completamente a primeira fase da vida deste blogue. Uma atenção que , se não for diária, tentará ser …frequente. Até logo.