quarta-feira, 29 de junho de 2011
As palavras...
As palavras são boas. As palavras são más. As
palavras ofendem. As palavras pedem desculpas.
As palavras queimam. As palavras acariciam.
As palavras são dadas, trocadas, oferecidas,
vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes.
Algumas palavras sugam-nos, não nos largam…
As palavras aconselham, sugerem, insinuam,
ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas
ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas
com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios
de palavras que vivem em boa paz com as suas
contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o
contrário do que pensam, julgando pensar o
que fazem. Há muitas palavras. E há os
discursos, que são palavras encostadas
umas às outras, em equilíbrio instável graças
a uma precária sintaxe, até ao prego final do
Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora,
se inaugura, se abrem e fecham sessões, se
lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas
de veludo. São brindes, orações, palestras e
conferências. Pelos discursos se transmitem
louvores, agradecimentos, programas e fantasias. E
depois as palavras dos discursos aparecem deitadas
em papéis, são pintadas de tinta de impressão – e por
essa via entram na imortalidade do Verbo. E as palavras
escorrem tão fluidas como o
“precioso líquido”. Escorrem interminavelmente,
alagam o chão, sobem aos joelhos,
chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço.
É o dilúvio universal, um coro desafinado
que jorra de milhões de bocas. A terra segue o seu
caminho envolta num clamor de loucos, aos gritos,
aos uivos, envoltos também num murmúrio manso,
represo e conciliador… E tudo isso atordoa as estrelas
e perturba as comunicações, como as tempestades
solares. Porque as palavras deixaram de comunicar.
Cada palavra é dita para que se não ouça outra
palavra. A palavra, mesmo quando não afirma,
afirma-se. A palavra não responde nem pergunta:
amassa. A palavra é a erva fresca e verde
que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira
nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra.
A palavra disfarça. Daí que seja urgente moldar
as palavras para que a sementeira se mude em
seara. Daí que as palavras sejam instrumento
de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha
o que valer o silêncio do acto. Há também o silêncio.
O silêncio, por definição, é o que não se ouve.
O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa.
O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil,
o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar.
Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras.
As palavras boas e as más. O trigo e o joio.
Mas só o trigo dá pão.
(José Saramago)
domingo, 26 de junho de 2011
"O papel. Qual papel?"
O check-up bienal na empresa onde trabalho evita que pouco recorra ao médico de clínica geral. Um relatório para uma determinada especialidade obriga-me a ir a uma consulta. “Que chatice!”, pensei. Ainda por cima a médica habitual, uma senhora afável e disponível para tudo, já não presta serviço lá, pelo que teria que ir a um desconhecido.
O médico desconhecido acolhe-me e eu resolvo atirar de chofre a razão que me leva ali: um “papel” (ehehee) que me obrigam a levar para ter acesso àquela especialidade. Coisa de pouca importância. Uma formalidade!
O medico olha fixamente para mim e reclina-se na cadeira.
“Acha que lhe vou fazer um relatório de uma coisa que desconheço?”. Pois… pensei eu, demasiado optimista… “Para lhe explicar qual a razão do relatório preciso de algum tempo, doutor” digo eu, a pensar nas três pessoas que já esperavam quando eu entrei e não só!
“Sou todo ouvidos, diz-me com um sorriso”. Seguiu-se uma conversa de uma hora sobre tudo e mais alguma coisa com momentos sérios e momentos de verdadeira “galhofa”que incluiu conselhos, futebol, experiencias de vida e profundidade. Estranho, não? Pois. Até para mim. Despede-se com um aperto de mão forte e levanta-se para me acompanhar à porta. Respiro fundo mal a porta se fecha. Saio arrasado com o papel na mão.Já na rua olho para o envelope fechado como se a minha vida estivesse ali encerrada.Papeis...
"Levanta-te e anda"
Por mais vezes que tropeces,
Por mais vezes que caias,
Por mais vezes que vejas o sol onde só existe escuridão,
A tua sina é levantares-te e caminhares.
Mesmo que o teu sangue marque a calçada...
Por mais vezes que caias,
Por mais vezes que vejas o sol onde só existe escuridão,
A tua sina é levantares-te e caminhares.
Mesmo que o teu sangue marque a calçada...
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...
Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -
Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,
É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.
Antero de Quental
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...
Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -
Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,
É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.
Antero de Quental
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Olhares sobre a Cróacia...
Ver crianças de sete anos ou oito anos a brincar com armas foi das coisas que mais me chocou na Croácia. Presumo que o facto de este país ter estado em guerra há apenas vinte anos seja uma razão mas… é triste ver uma criança com uma arma do seu tamanho a fazer o gesto de disparar sobre outra.
Ver o condutor do autocarro a falar ao telemóvel , constantemente, enquanto conduzia numa estrada cheia de curvas foi outro comportamento estranho…Confesso que me senti pouco confortável.
O caos urbanístico nas localidades (com excepção dos centros históricos) é enorme. Muitas casas estão só meio construídas e já estão habitadas. E não estamos a falar apenas de vivendas. Prédios de três e quatro andares também. Parece que os croatas têm pressa de ir viver para as suas casas ..na verdade quem não tem? Segue-se o lema de "as coisas vão-se fazendo", julgo. Politicas urbanisticas não devem ser preocupação. Cada um constroi como quer e lhe apetece.É pena.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Trova do tempo que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que eu morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio – é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi a minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi a minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas
Não sabem ler, é verdade
aqueles para quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
[Manuel Alegre]
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que eu morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio – é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi a minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi a minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas
Não sabem ler, é verdade
aqueles para quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
[Manuel Alegre]
terça-feira, 14 de junho de 2011
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. (...)
Fernando Pessoa
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. (...)
Fernando Pessoa
A história do livro que foi morar para a catedral
Era uma vez um menino que tinha uma paixão: Conhecer todas as catedrais do mundo. Um belo dia alguém particularmente querido, ofereceu-lhe um livro: um livro de contos . Era o livro mais belo que alguma vez tinha recebido.
Numa das suas muitas viagens foi parar ao país azul, onde estava a mais bela catedral do mundo. Deslumbrado quando tanta beleza o menino teve uma ideia: E se oferecesse aquele livro à catedral? Levantou-se, foi ao altar- mor, e deixou o livro pousado entre outros. Doravante, aquele livro passaria a morar ali. Para sempre. O livro mais belo para a mais bela catedral. Será recolhido, certamente, por alguém que não entenderá a língua em que está escrito mas... que o tratará como os livros devem ser tratados : com delicadeza.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
sábado, 11 de junho de 2011
"Sirocco"
A meio da tarde uma brisa surge, inesperadamente, e o calor abranda. Dizem que é o “Sirocco” um vento proveniente do Sahara, quente e sufocante, mas que chega aqui já temperado pelo Adriatico, que se agita quando ele vem. No dia em que fui às ilhas Elaphiti, num barco que era pouco mais do que uma traineira melhorada e adaptada para transporte de passageiros, o homem do leme estava preocupado com ele. Instalei-me na parte da frente do barco com um grupo de ingleses, entre os quais estava uma mulher que não devia ter menos de oitenta anos, frágil mas destemida. A viagem foi…uma aventura. Tudo correu bem enquanto o barco navegou nas águas calmas que separam a costa das numerosas ilhas ao longo da mesma. Quando o barco entrou em mar alto, a agitação começou a ser de tal ordem que, todos nós que íamos na proa, começamos a ter algum receio. De facto o barco “mergulhava” sem exagero mais de metro e meio à frente . Lá atrás a sensação devia ser pouco menos do que intimidatória, a avaliar pela forma como as pessoas se agarravam. O homem do leme ria-se com as nossas reacções…O adriatico saltava, de vez em quando, para dentro do barco e quem ia à frente levava com ele . Ninguem se atrevia a sair do sitio onde estava. A probabilidade de ir “borda fora” era elevada.
Steve, um Inglês aí com os seus cinquenta anos que se sentou a meu lado, era o único que saia do lugar para ir falar com o homem do leme. Numa dessas viagens, entre a cabine e o sitio onde estávamos, Steve vinha a pronunciar enroladamente, como só os Ingleses o fazem, a palavra “Sirocco” . “O Sirocco vem aí”, dizia. O homem do leme tinha-lhe dito. “Alguem sabe o que é o Sirocco? “ Um vento, digo eu. “Isto vai piorar …por causa do Sirocco”. A preocupação instalou-se mesmo. Não se imaginava pior . No entanto lá chegámos à primeira das ilhas Elaphiti sãos e salvos. O Sirocco , afinal, tinha sido mais suave do que se previa...Não deixei no entanto de pensar que as condições em que se fazem viagens, a algumas das ilhas por aqui (anunciadas pomposamente como mini-cruzeiros) deixam muito a desejar...
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Para ser grande, Sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Ricardo Reis
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Ricardo Reis
quarta-feira, 8 de junho de 2011
BCN-DBV
A experiência de ver o litoral Croata a partir do voo com destino a Dubrovnik não ficou aquém do que esperava. Pena haver uma neblina que não permitiu uma visão límpida. Tinha pedido no check- in um lugar à janela do lado esquerdo. Era desse lado que, de certeza, surgiriam as melhores vistas. Não me devo ter feito entender … o lugar que me atribuíram foi um lugar do lado direito e em cima da asa…No entanto como o avião ia meio vazio foi possivel mudar.
Junto ao litoral vêem-se dezenas de ilhas de todos os tamanhos. Já perto de Dubrovnik a costa eleva-se abruptamente, junto ao mar, com picos uns atrás dos outros fazendo lembrar uma montanha russa.
O avião a certa altura “encostou-se” à linha de montanhas para aterrar. Lá em baixo a sucessão montanhosa não fazia imaginar onde o ia fazer...Intimidatório … Lá surgiu uma pequena planície e uma língua de cimento onde o avião aterrou com os travões a funcionar em pleno assim que tocou terra. A pista é pequena e o aeroporto faz lembrar uma estação de autocarros. Chego à porta do avião e a primeira sensação é a de ter chegado a um país tropical. Está anormalmente quente e abafado para as temperaturas anunciadas. Filas para verificação de passaporte fazem-me lembrar que não estou no espaço Schengen... nem sequer na “Europa”. O controlador olha demoradamente para mim enquanto eu lhe forneço o passaporte por uma ranhura minúscula Ouve-se um estalido metálico e meu passaporte leva o primeiro carimbo desde a sua existência… Esboço um sorriso mas o controlador não… Faz-me um sinal com a cabeça para prosseguir…. Tive a estranha sensação de estar nos anos oitenta do século passado e de ter chegado a um qualquer pais da cortina de ferro .
A ligação à cidade faz-se por uma estrada estreita que serpenteia pelas montanhas .Não há auto- estradas por aqui… o cenário é estonteante. As baias sucedem-se do lado esquerdo cada uma com uma ilha ou duas ao longe. . À direita, vegetação tipicamente mediterrânica sobre rocha esbranquiçada. Começa –se a avistar Dubrovinik e e soam “ohhs” de admiração no autocarro …Amazing.
(as minhas desculpas pelo facto da qualidade da foto não ser a melhor...)
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Um centro comercial, uma esmola e os filhos da classe média
Já não tenho paciência para mega Centros Comerciais. Cada vez sou mais adepto de tudo o que é pequeno e aconchegante. A Fnac ela propia transformada num mega centro que vende de tudo, está desinteressante. Hoje, cinco adolescentes com aspecto de não estarem propriamente necessitados, abordaram-me no Centro Comercial Vasco da Gama para me pedirem ... vinte cêntimos. Até já as esmolas estão em saldo? Até os filhos da classe média perderam a vergonha? Obviamente que disse que não! Ouvi um chorrilho de insultos que aludiam à minha miserabilidade...
Estratégias concerteza... Vinte cêntimos toda a gente dá.
Estratégias concerteza... Vinte cêntimos toda a gente dá.
domingo, 5 de junho de 2011
Jardins Proibidos
Hoje cortaria rosas no jardim para ti.
Se o jardim ainda existisse…
Agarrei na única rosa que havia em casa e adormeci com ela a meu lado.
Vã esperança …de quem se recusa a ver que não há mais rosas para florir…
sábado, 4 de junho de 2011
O dia de reflexão...ou não.
Hoje é dia de reflexão. Era suposto os Portugueses estarem concentradíssimos a reflectir . Imaginem pois a cena numa típica família Portuguesa Zen à hora de jantar:”Ora vamos lá decidir em quem vamos votar! Ana expõe sumariamente as propostas do PS enquanto o Jorge prepara o mesmo relativamente ao PSD. Eu falarei das propostas do CDS e a mãe, por fim, falará das propostas do PCP e do BE. Relativamente aos restantes partidos resta-nos o gato que resumirá num miau as propostas de todos eles. .. “
A tendência para criar dias para isto e para aquilo chega a ser, às vezes, ridícula.
No que me toca, reflecti todos os dias nestes últimos seis anos sobre as medidas tomadas por este governo. Vi o país afundar-se enquanto o Marketing político me gritava aos ouvidos, até á náusea, que tudo estava bem e que vivíamos numa espécie de paraíso na terra. Vi o país envolvido em esquemas que fariam corar de vergonha D. Corleone. Vi um Primeiro Ministro a vender computadores numa cimeira e a dar diplomas a granel gritando ao mesmo tempo que estava a dar novas oportunidades às pessoas. Não interessa o que aprendeu. Interessa é o diploma. Como eu o compreendo …
Espero que os Portugueses tenham juízo e saibam que há coisas que são inevitáveis.
E mais não digo senão ainda me acusam de estar a violar este dia...
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Trogir a fantástica!
O meu périplo Croata terminará nesta cidade: Trogir a cerca de 15 Km a norte de Split. A ideia é conseguir visitar as duas cidades no pouco tempo que já me resta quando aqui chegar.Trogir é uma cidade muito bem preservada e com uma localização fantástica. Irei estar limitado no que toca ao acesso à Internet mas... assim que possa colocarei aqui a minha visão sobre a Cróacia. :)
Saudade
Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.
Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.
Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.
Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...
Pablo Neruda
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Reflexões à volta de um copo de leite...
"Não pode beber café durante um mês . Mistura alguma coisa no leite? Não pode. Tem que passar a beber leite simples. Se não for assim o tratamento não resulta..."
Olho para a impositiva dentista com um misto de incredulidade e divertimento. Impossivel! Inimaginável! Quebrar dois hábitos de sempre duma só vez ? Não cabe na cabeça de ninguém . Faz-se silêncio no consultório e eu apenas consigo dizer “mas tem mesmo que ser…? Tem! Vamos começar? “ Esta capacidade da minha dentista para me por fim às hesitações, sem clemência, é terrível… Como quando me diz com um sorriso : “Vou ter de lhe abrir o dente…” ?$%&;?Não há nada que me provoque tantos calafrios como a linguagem e os aparelhos dos dentistas.
Hoje, quinze dias depois, ao beber o copo de leite matinal (simples) reparei que aquele sabor meio amanteigado que eu sempre tentei disfarçar já não me incomodava. O café, esse continua a fazer-me falta mas descobri, por exemplo, que não há qualquer relação directa entre as minhas noites mal dormidas e o acréscimo de cafeína diário. Nem que adormeço melhor se não tomar café…
Vem isto a propósito da nossa resistência feroz à mudança que chega, às vezes, a ser irracional . Mudar de hábitos, mudar de casa, mudar de cidade, mudar de emprego, mudar de vida…Tudo aparece rodeado de uma auréola de receio e insegurança que, na maioria dos casos, não tem razão de ser. Já para não dizer que, não mudar às vezes deita dramaticamente tudo a perder.
É por isso que admiro esta capacidade de a minha dentista me fazer ver certas coisas. Decididamente e sem dó nem piedade…
quarta-feira, 1 de junho de 2011
A bela ilha de Korkula
Após quatro dias em Dubrovnik subirei ao longo do litoral croata em direcção a Split, uma cidade com caracteristicas muito peculiares. No caminho, ficarei dois dias nesta bela ilha de Korcula. Os locais defendem que Marco Polo nasceu aqui e aproveitam turisiticamente essa ideia . Não falta inclusivé a casa onde supostamente ele terá nascido.No entanto, duvida-se fortemente que isso seja verdade. A capital da ilha tem o mesmo nome: Korcula e é conhecida por pequena Dubrovnik, tais são as semelhanças entre as duas cidades. As fotos indiciam muita beleza...Vamos ver.
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