sexta-feira, 17 de junho de 2011

Deixai-os vir a mim, os que lidaram; 
Deixai-os vir a mim, os que padecem; 
E os que cheios de mágoa e tédio encaram 
As próprias obras vãs, de que escarnecem... 

Em mim, os Sofrimentos que não saram, 
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem. 
As torrentes da Dor, que nunca param, 
Como num mar, em mim desaparecem. - 

Assim a Morte diz. Verbo velado, 
Silencioso intérprete sagrado 
Das cousas invisíveis, muda e fria, 

É, na sua mudez, mais retumbante 
Que o clamoroso mar; mais rutilante, 
Na sua noite, do que a luz do dia. 

Antero de Quental

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