A Fatima Cigana é um ícone de Castelo Branco. Alguem me dizia há uns tempos, com uma certa piada, que "Paris tem a torre Eiffel, Londres o Big Ben e Castelo Branco ...a Fátima Cigana." Este rosto a lembrar claramente a personagem Yoda da "Star Wars" tem tudo para ser rejeitado . No entanto, este ser que deambula pela cidade há gerações , sem se saber a sua idade, a sua família a pedir “moedinhas” é das pessoas mais acarinhadas e mimadas da cidade . Conta-se que um conhecido médico se disponibilizou para a operar quando as “cataratas” quase a cegaram. Gratuitamente. E hoje a “Fatinha” vê melhor. O Q.I da "Fatinha" não é certamente elevado.. e , apesar do seu mau feitio, tem uma legião de fâs e uma pagina no Facebook. Estranho, não? Não… São estas pessoas que nos dão lições de vida. A simplicidade não é para todos.
É por isso que eu admiro pessoas como Manuel Sobrinho Simões.
3 comentários:
Gostei de ler o post, pois fez-me pensar, mas discordo parcialmente do que dizes. Passo a explicar-me. Como é sabido, sou um pouco chata quando me lembro de discordar, pelo que vou abusar um pouco do espaço. :))
Pelo que vi dos meus tempos de Facebook, não me pareceu que a legião de fãs da Fátima Cigana seja apenas movida pelo carinho. Há os que gostam dela, sim, mas também vi muita gente a divertir-se à custa da pobre mulher, assim como quem trauteia as músicas do Quim Barreiros por puro gozo; mas, tratando-se de um ser humano, é muito triste. A Fátima Cigana comove alguns, é verdade (foi muito bonito da parte do médico operá-la às cataratas), mas pareceu-me que, sobretudo, ela diverte, evoca recordações, desperta saudosismo (logo, comoção que se confunde com carinho pela pessoa), inclusive dos que se divertiam a fugir dela depois de despertarem a sua ira e de a levarem à sua célebre reacção: atirar com paralelos que, misteriosamente, ela tinha sempre à mão (caricato, sem dúvida). Outros dão uma moedinha e ficam bem com a sua consciência e com o mundo. Há tanta gente boa e que gosta tanto da Fátima Cigana. Pergunto-me então como é possível ela ainda viver naquela miséria ao fim destes anos todos, numa cidade com tanta gente boa e rica. Acho que há pessoas que precisam de probrezinhos para se sentirem contentes com a sua generosidade. Fazem-me lembrar as senhoras dos jantares de beneficência.
Fiquei a pensar na lição de vida que a Fátima Cigana nos pode dar. Sinceramente, a única que me ocorre é que a vida é profundamente injusta e que é triste vir ao mundo para ter uma vida pouco diferente da dos animais. Tanta civilização, tanto progresso, tanta Europa, para ainda haver isto.
Quanto à simplicidade de Fátima Cigana: não conheço suficientemente a sua história, mas creio que não andará a deambular pela cidade, pedindo uma moedinha e dependendo de quem lhe dê um prato de sopa, por opção. Não sei sequer se a Fátima Cigana tem consciência da miséria em que vive. Tem comportamentos que acabam por ser caricatos, admito. Também já me fez sorrir. Não sou inocente. Mas, normalmente, entristece-me olhar para ela e sei que não sou a única a entristecer-me com isso... Pessoas como a Fátina Cigana trazem diversão às nossas vida, um pouco como os bobos da corte, mas pergunto-me quantas pessoas que dizem adorar a Fátima Cigana lhe deram abrigo debaixo do seu tecto. Eu nunca. Não tenho esse altruísmo, mas também não me declaro fã dela. Tenho pena dela, mas não consigo sentir admiraçãopor ela, apenas repúdio por vivermos num país onde ainda nem todos têm direito ao mínimo de dignidade. Tenho certeza que muitos fãs não têm má intenção, sorriem como eu já sorri, mas, deixando o lado lúdico, se pensarmos nisto tudo, o sorriso passa-nos rapidamente. Ou quantos fãs desejam para os seus filhos a vida e o perfil da Fátima Cigana?
Em contrapartida, estou plenamente de acordo com a última frase: a simplicidade não é para todos. Há gente que tem um grande QI e é muito simples e gente com fraco QI que é muito arrogante e presunçosa. Como sempre, tudo é relativo. Há de tudo. Tenho muito respeito pela pobreza e admiração pela humildade. Quem me conhece sabe que é assim. Mas admiro muito mais a simplicidade e humildade de quem o é consciente e naturalmente (e que poderia não o ser) do que os que o são apenas porque a vida não lhes permitiu sair do nível da calçada e quase nem têm consciência da sua existência. É o caso de Fátima Cigana. Perguntemos-lhe quem é e, muito provavelmente, não saberá responder ao mais básico. Todos os albicastrenses deveriam sentir tristeza (e os que têm responsabilidades deveriam sentir vergonha) por ela viver como vive há tantos anos.
É só uma opinião. Vale o que vale: não passa de um ponto de vista tão discutível quanto outros, mas vem de pessoa simples, como sabes, e que toda a sua vida rejeitou a arrogância.
Eu própria já lhe chamei "ícone da cidade", mas o post obrigou-me a pensar melhor e convenhamos: é um ícone, sim, mas por tristes razões.
Alice
A Fatinha não aprece neste post por acaso. Na verdade, são mais as pessoas que a acarinham e mimam do que as que troçam dela. Vejo isso todos os dias. E, sim, há muita gente que a ajuda e se preocupa com ela. Um exemplo extremo de simplicidade (inconsciente, concordo) para olharmos para o lado oposto: aquele onde mora o bem-estar, o Q.I acima da média mas onde às vezes não existe um pingo de simplicidade. Vale mais a "dignidade" da Fatinha (que por acaso, ou não!!) caminha sempre com a cabeça bem levantada do que a arrogância e a presunção de pessoas com um ego do tamanho de um autocarro.
E vem sempre! Concordando ou discordando !
(Na verdade detesto blogues "Amen". :) )
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