sábado, 27 de agosto de 2011

"Tudo se pode aprender, excepto a morte. Porque só se aprende o que já está em nós. E a morte não está."

Vergílio Ferreira


Até sempre
J.Melo

 

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domingo, 21 de agosto de 2011

Um país em debandada






Leio, no Expresso desta semana, que os franceses estão satisfeitos com a nova vaga de emigração proveniente de Portugal. Os novos emigrantes (famílias com dois três filhos na casa dos quarenta) têm como destino a vasta cintura parisiense,  onde outros conterrâneos os aguardam para lhes dar trabalho  e alojar.  Não há “bidonvilles” desta vez. Há anexos, construídos nos jardins das vivendas dos portugueses já  por ali radicados,  e há trabalho nas suas empresas. As autoridades francesas “adoram” este tipo de emigração que não lhes dá “dores de cabeça”… Chegam, instalam-se , começam a trabalhar e não pedem nada. Os filhos são rapidamente integrados no sistema de educação nacional e não voltarão. Assim como os seus pais, claro. Hoje a "saudade"  está muito relativizada. Há um mini-Portugal ,de dez em dez quilómetros na extensa periferia de Paris: com  trabalho, salário que dá para além das necessidades básicas, diversão ...tudo usufruído no conforto de um estado verdadeiramente social  . Internet, Skypes e afins, fazem o resto. 

Green days



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Este poema é absolutamente desnecessário



Este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um
                                                                                 [útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?



António Ramos Rosa
in Deambulações Oblíquas

Entrelaçados graníticos

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Omo lava mais branco...




Acho este anúncio publicitário delicioso. Sempre fomos um povo “branqueador” e “branqueado”. Adoramos que a realidade , a dura realidade, seja suavizada, um pouco naquela óptica tão portuguesa do “ai coitadadinho que não aguenta”. Assim foi a era Sócrates. O país estava a definhar mas convinha apresentar as coisas aos “pouquinhos”, coitados de nós, que não aguentávamos… É claro que Sócrates estava pouco interessado que nós morressemos ou não… A estratégia era outra: era esconder mesmo, chutar para o lado. Alguém haveria de suportar os 80 mil milhões de endividamento com que nos brindou no seu consulado. Ele não seria (e não será mesmo!) concerteza.. Chutou para o lado e foi assobiar (ou vai…) para Paris. Foi preciso vir uma Troika( Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI))retirar o efeito "omo" no país. Alguém que veio chamar os "bois pelos nomes". Agora não nos atiram com "omo". Atiram-nos com acido sulfurico. Enfim… temos sido governados por gente sem escrúpulos que vive agora impune, e feliz, por esse país e mundo fora…Era bom que os portugueses tirassem as devidas ilacções de tudo isto: é que o efeito "branqueador" apenas adia, esconde, mas...não resolve.

sábado, 13 de agosto de 2011

O museu do Caramulo




Ali, no exacto ponto, onde a paisagem passa de granito despido a um verde de árvores invulgares , sai-se da A25, anda-se uns quinze a vinte quilómetros, e aí está a vila do Caramulo. Não olhe para a vila. Ficará chocado com as aberrações arquitectónicas. Olhe para a paisagem a perder de vista, olhe para as árvores e olhe para as casas em ruinas, as únicas a merecer estar neste local. Olhe também para o silencio do local e, por fim, não se esqueça de entrar num museu pequeno, multifacetado, mas marcante. Ficará deveras surpreendido.

Pores- do- sol da minha janela

The heart of saturday night


quinta-feira, 4 de agosto de 2011


Marília, nos teu olhos buliçosos
os Amores gentis seu facho acendem,
A teus lábios voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.

Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem,
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.

Reside em teus dedos a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
a Razão com teus risos se mistura;

És dos céus o composto mais brilhante:
Deram-se as mãos Virtude e Formosura
Para criar tua alma e teu semblante.

Bocage

domingo, 24 de julho de 2011

Morte no país dos fiordes.



Por detrás destes olhos frios, glaciares mesmo, está alguém que decidiu que mais de oitenta pessoas não tinham direito à vida.

Outono

O sol já se deita com o horizonte .
Uma brisa forte arrasta as folhas para longe.
Os castanheiros murmuram , altivos . Conversam de tudo e de nada…
Um sino esforçado toca ao longe implorando orações esquecidas .
Outonos de uma infância vaga, longínqua …

domingo, 17 de julho de 2011

Limitações



Quase todas as ruas estreitas da parte velha da cidade de Korcula têm o mar como pano de fundo. O tempo parou nesta cidade. Construída numa pequena península da ilha com o mesmo nome, o nascer e o pôr-do-sol oferecem, aqui, cenários de cortar a respiração.

sábado, 16 de julho de 2011

Fui sabendo de mim

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Por terras de Egitânea (2)








segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chopin

Não se acende hoje a luz…Todo o luar
Fique lá fora.Bem Aparecidas
As estrelas miudinhas, dando no ar
As voltas dum cordão de margaridas!
Entram falenas meio entontecidas…
Lusco-fusco…um morcego a palpitar
Passa…torna a passar…torna a passar…
As coisas têm o ar de adormecidas…
Mansinho…Roça os dedos plo teclado,
No vago arfar que tudo alteia e doira,
Alma, Sacrário de Almas, meu Amado!
E, enquanto o piano a doce queixa exala,
Divina e triste, a grande sombra loira
Vem para mim da escuridão da sala…

Florbela Espanca

A arte de mal receber

Tenho alguma dificuldade em perceber por que razão em Portugal somos tão maltratados em certos sítios, Ainda esta semana , num café, serviram-me aquilo que pedi sem uma palavra, sem um sorriso e, no acto de pagar, fui eu que disso “obrigado”… Já tentei perceber isto à luz de muitos prismas mas chego sempre à mesma conclusão. Em Portugal ser bem educado está “out”. Um jovem bem educado, com valores, que não cospe nem vomita impropérios a toda a hora é uma ave rara. Ir a um café e ser abordado , muitas vezes, sem sequer nos dirigirem a palavra e com uma cara que, na prática, quer dizer “ olha este que me veio dar trabalho!” é normal.
Um acto simples, como é o de sorrir, devia fazer parte do nosso dia a dia. Quem recebe pessoas, no seu local de trabalho, vê com certeza a empatia nascer de imediato se sorrir e, melhor ainda, se dizer um bom-dia efusivo ou se proferir duas ou três palavras simpáticas.
(Não me refiro a essa atitude invasiva, que agora está na moda,  de sermos abordados nas lojas normalmente de uma forma tão desastrosa que tem o efeito contrário.)
É por isso que me sinto bem em qualquer café, onde entre, em França. Sei que sou imediatamente recebido como um “Bonjour Monsieur “ e um largo sorriso. À saída oiço sempre um “Au revoir , Merci”.
Saio sem lastimar o quão caro foi o café que bebi…

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Frio em pleno Verão

Excertos de vida...

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

...


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Alberto Caeiro

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Convento velho de Penafirme






Seriamente danificado pelo terramoto de 1755, o convento velho de Penafirme (junto à praia de Santa Rita e do Vimeiro) resiste, ainda assim, apesar da incúria e do abandono. É uma pena. Ruínas destas teriam concerteza muitos visitantes se devidamente assinaladas, preservadas e divulgadas. E se houvesse vontade e sensibilidade para tal...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A visão de Antero




Bonito gesto este de imortalizar a passagem de Antero de Quental por Santa Cruz.
Nunca esquecerei as empolgadas declamações do poema "Palácio da Ventura" do meu professor de Português de 11º ano. Açoriano como ele, não escondia a emoção quando falava deste poeta. "Sintam o trotar do cavalo!"..."sintam a desilusão final!", dizia-nos.Não mais parei de sentir. É o poema da minha vida.