domingo, 9 de janeiro de 2011

FNAC, Domingo 15,30...


Peguei  no livro “Espião que saiu do frio” de John Le Carré e pensei comigo mesmo que era imperdoável não o ter lido nunca… Vejo um daqueles sítios onde as pessoas se sentam para folhear os livros enquanto esperam por alguém e sentei-me no único ligar disponível. Como quase toda a gente, gosto de ler algumas frases soltas nos livros , ao acaso, antes de os comprar.
Levanto os olhos e dou comigo a observar o casal sentado à minha frente. Ambos na casa dos setenta lêem, não folheiam apenas, os livros que seguram nas mãos. Ele vai a meio, ela está no fim e falta-lhe uma página,  duas… se tanto. Entre os dois um espaço vazio com três ou quatro livros já seleccionados.  As dificuldades são vísiveis na forma como vestem, no cabelo maltratado , nos sacos de plástico usados onde provavelmente trazem os seus pertences… A mulher chega ao fim do livro e fecha-o cuidadosamente com um sorriso nos lábios. Aquele  sorriso com que todos acabamos um livro cuja leitura nos deu um prazer imenso. Desvio o olhar,  antes que ela note a minha observação,  e fico a pensar como , na prática, a FNAC está a cumprir uma função social que compete ao estado, esse estado espremido, demitido das suas funções,  doente, mal gerido  de quem até o nosso Presidente desconfia,  sugerindo ás pessoas com necessidades para “irem ao privado”…
Olho novamente e reparo que alguém se sentou no pequeno intervalo  de espaço ainda vago entre o casal, intervalo que a senhora alargou puxando os livros que lá estavam para junto de si… Alguém que abre o livro a meio e levanta uma pequena ponta dobrada no canto superior da folha, sinal evidente de uma leitura interrompida…
A FNAC é um pequeno paraíso. Espaço sereno onde é possível folhear livros e lê-los, se quisermos,  sem sermos incomodados... Coisa rara nos dias que correm.

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